Ambientalismo imperfeito: ecologia possível e sem neura

Ambientalismo imperfeito: ecologia possível e sem neura

Sabe aquele ideal que a gente tem do ambientalista perfeito? Pessoa que não faz lixo, só come orgânicos, não come nada de origem animal, só compra dos pequenos. Só falta uma auréola, né? Mas essa pessoa ideal tem uma vida que poucos conseguem implementar, muitas vezes restritiva, com sacrifícios. Como que uma mãe solo periférica vai ao trabalho e leva as crianças na creche de bicicleta? Como a pessoa que come no trabalho pode escolher a origem dos seus alimentos? Como a pessoa que vive em uma casa com pessoas diferentes implementa uma política de lixo zero ou limpeza natural, sem contar com a ajuda dos demais? Que percentual da população consegue, então, atingir esse ambientalismo perfeito? 
Por isso queremos propor um pensamento mais inclusivo, acolhedor e até realista do ambientalismo. Que entende que não existe o ideal, mas existe o possível - e ele é muito (muito) potente. Ainda mais se cada um faz o que consegue. Pensa em uma pedra grande: uma pessoa sozinha não consegue carregar, nem mexer nela. Mas, se juntar um monte de gente, cada um carrega um pouquinho - e nem pesa. 
Escovas feitas de bambu.
Foto: Sara Groblechner

Laura já pensa nisso faz algum tempo: tem uma composteira, cuida da alimentação com frutas e vegetais sortidos, dá preferência aos orgânicos e a lojas menores. Faz muitas coisas do zero, como caponatas e pães. Mas em reuniões de família sabe que vão ter alimentos e coisas que ela não usaria em casa - e tudo bem. Até dentro da casa dela, os cosméticos, alimentação, produtos dela, marido e filho não são idênticos. Com filhos pequeno numa cidade quase sem transporte público, precisa usar carro e se locomover. Mas o que ela já implementou de mudança faz uma diferença enorme para o meio ambiente. Em que ia ajudar ela ficar se cobrando pra ser 100%-zero-waste-agroecológica-renovável-biodegradável, se isso for causar mais angústia e stress, prejudicar as relações dela com a família, e sobrecarregar nos afazeres? Nada. 
Isabella come de tudo, utiliza cosméticos tradicionais e também cosméticos naturais, ia de bicicleta para o trabalho e está craque com a sua nova composteira - aprendendo e ensinando inclusive os amigos como usar. Disse que ainda não conseguiu fazer o caldo de legumes da casca, mas não tem problema. Tem doado o fertilizante, colocado nas pracinhas da cidade, e feito sua parte para melhorar a relação com lixo. Essas coisas todas não começaram do dia pra noite, foi uma atitude por vez, ao longo de mais de cinco anos. Hoje, além de sentir que contribui para o planeta, ela está curtindo muito aprender jeitos novos de agir, e repensar sua relação com as coisas. 
Amanda não conseguiu negociar com o parceiro o consumo produtos ultraprocessados e processados do mercado, nem conseguiu eliminar o delivery da rotina de fim de semana. Mas ela deixou de consumir carnes e o parceiro reduziu o consumo, e sentiram melhoria no corpo. Na casa não usam mais detergente e esponja plástica, só sabão de coco e bucha vegetal. Além de separar os recicláveis, e aprendeu a fazer caldo de legumes com as cascas mais saborosas. O seu cão, que usava tapetinho, só usa o Weasy desde 2018. Depois de procurar muito, achou um shampoo em barra e um desodorante natural que estão fazendo sentido pra ela e pro parceiro. Ele não usa ecobag mas vai no mercado de mochila - bem melhor pra carregar, inclusive. Não teve nenhum prejuízo na rotina, não prejudicou as relações dela. Pelo contrário, só trouxe vantagens. 
Cadu sempre cuidou da pele e do cabelo, mas usando produtos tradicionais. Já foi vegetariano, e voltou a comer de tudo. Agora está pegando receitas a base de plantas para testar e compartilha com nos stories suas aventuras culinárias. Procurou se informar sobre shampoo em barra, e outros cosméticos, e está testando e se surpreendendo com os resultados. Além de sentir os efeitos positivos pra ele, está adorando compartilhar as aventuras com os amigos -  que por sua vez dão dicas de coisas que deram certo pra eles também. 
Foto: Chewy
Nenhuma dessas pessoas está sacrificando nada, muito pelo contrário. Estão descobrindo onde a relação deles com o meio ambiente é dolorida, onde tem ideias que animam, o que é possível colocar em prática, juntando o que é prazeroso e o que faz diferença. 
Tudo ou nada? Saara ou Antártida? Em mundo tão polarizado, que tal a gente entender que não precisa ser o extremo, e considerar os caminhos possíveis? Repensar sim a nossa relação com consumo, com lixo, adotar na rotina mudanças que fazem diferença pro mundo e pra nossa saúde, mas que são possíveis, implementáveis. Mudanças que trazem qualidade de vida - e não sofrimento.
Todo mundo fazendo um pouco, ou poucos tentando fazer o máximo possível? Como diz o ditado, uma andorinha não faz verão ;)
Vamos fazer esse verão?
Segue nossos conteúdos este mês para dicas aplicáveis no seu dia a dia <3